2 de junho de 2006

Tim Lopes

Hoje faz quatro anos que o Tim foi assassinado numa dessas nossas ribanceiras/nação (não dá para, mais uma vez, deixar de citar o Chico). E tome Chico: fogueira desvairada, cidadãos inteiramente loucos, bandeiras sem explicação, fronteiras, munição pesada. Na segunda-feira, menos de 24 horas depois do assassinato, um amigo comum, o Frei David, me contou: nosso irmãozinho foi morto. Fora descoberto, preso, torturado, queimado. O assassinato do Tim foi também um golpe mortal - mais um, esse poço parece não ter fundo - na possibilidade de construção de uma cidade. Antes, e acima de tudo, o Tim acreditava em pontes, em ligações entre nossas cidades partidas. Ele personificava esta ponte, bem recebido que era em favelas e em Ipanema, cheio de amigos e de - ex!, ex! - namoradas por toda a cidade. Gaúcho do morro da Mangueira, mulato carioca, sangue/suingue pra lá de bom. Mais do que repórter investigativo, era repórter solidário, empenhado em fertilizar ligações, estabelecer contatos. Seu assassinato foi também o assassinato de uma cidade possível, menos excludente, do Leme ao fundo de quintal. Na praia de domingo, a matéria do Tim não era o nosso óbvio biquini-sorvete-apito. Ele via o vendedor de sorvete, o sujeito do mate, o cara do biscoito Globo. Na briga, tomava o lugar de quem apanhava, não do que batia. Suas matérias, no JB, no Repórter, na Globo, tratam, principalmente, de injustiças sociais, violência policial, dos dramas e sonhos de gente pobre. Nada o deixava mais feliz do que botar no ar uma história de alguém que contava como conseguira superar as dificuldades impostas pela vida. Era como se ele recontasse a própria história. Anjo no nome, morreu como o padroeiro: flechado, furado, rasgado, queimado. Crivado, clareai nossa visão.