16 de junho de 2006
Ninguém merece (2)
Ainda sobre pressões: o Pelé foi e é mais sábio. Sempre demonstrou que nunca acreditou muito nessa história de ser o Pelé. Separava Édson de Pelé e, até hoje, se refere a este na terceira pessoa. O Pelé era o outro. Ninguém - ele sabia e sabe - poderia carregar o peso de ser Pelé. O cara é rei, até por isso.
Saravá!
O físico arredondado, a cara gorducha, aqueles balangandãs no pescoço... O Maradona não tá a cara de pai-de-santo de subúrbio?
Ninguém merece
Ronaldo disse que ninguém merece tanta pressão, uma pressão que classificou de enorme. Com todo o respeito, carinho a admiração pelo maior jogador da Copa de 2002: como assim? Ele não é ninguém, um reles ponta-esquerda de um time de subúrbio. Ele é o cara, o Fenômeno, já eleito o melhor do mundo, arrendatário dos passes de algumas das mais desejadas mulheres do planeta, dono de uma conta bancária que só faz crescer. Será que ele achava que tudo isso viria de graça, sem pressão? Como dizia o velho Fernando Bueno, ex-fotógrafo da sucursal do Estadão no Rio: há bônus e ônus. No caso do Bueno, estes costumavam vencer aqueles de goleada; já no caso do Ronaldo, acredito que a ordem seja inversa. Nosso atacante já deu provas de talento e de superação, aquela história do joelho partido e a consagração na final da Copa é quase inacreditável, parece roteiro de filme bobo americano. Mas aconteceu, né? Ronaldo, pelo visto, passou a acreditar demais nos sonhos midiáticos vendidos para quem, nos estádios, fica apenas nas arquibancadas. Acreditou tanto neles que não notou que a barriga crescera, que a velocidade diminuíra. Barrigas só não crescem nos super-heróis dos filmes, dos quadrinhos. Nós, do lado de cá, até podemos acreditar nesses heróis; vocês, protagonistas, não. Se vocês falham, a gente pode trocar de herói, já vocês se arriscam a trocar de papel: sai o Super-Homem, entra o barrigudo patético e decadente de "Os Incríveis".
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