15 de fevereiro de 2008

Meninas mortas

Não quero transformar este blog num espaço de discussão de segurança pública - o Jorge Antônio Barros faz isso muito bem lá no seu Repórter de Crime (http://oglobo.globo.com/rio/ancelmo/reporterdecrime/). Mas, caramba: acabo de cobrir a terceira morte de menina de onze anos vítima de bala classificada como perdida. Cobri os três casos: todos ocorreram em favelas durante conflitos entre policiais e bandidos. Nesta sexta, a vítima foi Ágata Marques dos Santos, moradora da Rocinha; na semana passada morreu, na Vila Cruzeiro, a Yorrane Abas Tavares Ferreira; no dia 15 de dezembro passado a bala matou Fabiana Santos Monteiro, moradora do morro do Telégrafo, na Mangueira. Sobre este último caso cheguei a fazer um post no dia 18 de dezembro, A rosa de número 6.001.
A Secretaria de Segurança diz que lamenta as mortes, mas que é assim mesmo, a polícia tem que combater o tráfico. A Polícia Civil soltou uma nota em que afirma que tem procurado agir com "planejamento, inteligência e cautela" para evitar vítimas inocentes. Não duvido das boas intenções das autoridades de segurança, sei que a situação no Rio é muito complicada. Mas não dá pra reagir com naturalidade diante de tantas mortes de crianças. Não consigo acreditar que esse seja o preço que tenhamos que pagar pelo suposto fim do domínio territorial de traficantes em favelas cariocas. Não é a primeira vez que a política de confronto é exacerbada, outros governos já fizeram o mesmo, com resultados pífios. Também não dá para ver com naturalidade cenas de policiais atirando em direção às casas da favela, para o alto do morro, sem mirar num alvo específico. Bandidos fazem isso? Fazem. Mas eles são bandidos, a polícia não pode se igualar a eles.
O pior é que as histórias da Ágata, da Yorrane e da Fabiana vão sumir logo dos jornais (estas duas já desapareceram). O destaque dado aos mortos tem a ver com a renda de cada um. A indignação da população também é proporcional à posição social das vítimas. Não tenho a menor dúvida que a reação da sociedade e mesmo das autoridades seria outra se as meninas mortas morassem aqui, no asfalto, e não lá em cima, nas favelas.