18 de março de 2008

A camisa do quase

Já sei, já sei. Um sujeito que se diz sério não deveria escrever uma baboseira como a que vem abaixo - pelo menos, não deveria escrever baboseiras conscientemente. Mas é que acabei de ler uma notícia no site do Globo Esporte sobre a decisão do Botafogo de não jogar os clássicos com o uniforme listrado - veja aqui. Boa notícia. Há duas semanas mandei para uma amiga, que trabalha no Botafogo, uma observação: que tal trocar o modelo da nossa camisa tradicional? Não sei se ela teve coragem de levar minha observação adiante, mas repito aqui meus argumentos. O problema é simples: o atual figuro subverte a tradição da camisa listrada. Algumas listras não cumprem seu destino retilíneo e, lá pertinho do calção, quase no limite da camisa, dão a volta, fazem uma curva, retornam ao ponto de partida, traem sua vocação. Veja aqui, ó:



Sei não, mas isso tem muito a ver com a trajetória do time em 2007 - e mesmo, neste início de 2008. No ano passado, quase conquistamos o título carioca (fomos roubados, mas perdemos o campeonato) e a Copa do Brasil (igualmente furtados): íamos bem no Brasileiro, tropeçamos na Sul-Americana, e desandamos de vez. A vaga na Libertadores também ficou no quase. Disputamos os jogos decisivos com a camisa que tem listras que voltam ao ponto de partida. Usamos o mesmo uniforme titular na decisão da Taça GB deste ano. Deu no que deu: com a camisa em que as listras quase chegam ao fim, ficamos no quase. Já no domingo passado, com a camisa preta, derrubamos um tabu.
Claro que vitórias e derrotas não têm a ver com camisas - só um idiota supersticioso pensaria isso. Mas, sei lá, tá regulando, né? Vamos então de preta ou de branca - enquanto não ajeitarmos a belíssima preta-e-branca. E, já que falei de camisas: tá na hora de proibir o Castillo de usar aquela que estampa uma estrela preta. Além de feia, de lembrar aquele fanfarrão frangueiro do ano passado (toc, toc, toc - que seja feliz em sua nova granja), a camisa briga com nosso símbolo: nossa estrela, a que nos conduz, é branca, caramba.

A temperatura de um diploma

O Brasil sempre nos surpreende - nem sempre para melhor, claro. Mas é quase sempre surpreendente. Na sexta passada eu tentei fazer aqui uma ligação entre a vida falsa desejada pelo menino que pediu um par de "chinelos de marca" - para tentar fingir que era rico - com a má qualidade da educação pública no país. Uma educação que fornecia diplomas verdadeiros, mas que se revelavam falsos - atestavam um conhecimento não-adquirido pela maioria de seus possuidores.
Enfim, tentei ligar o Estado que distribui uma falsidade com o menino que - de tanto receber expectativas falsas - assume que só poderá sair da pobreza de maneira ilusória e temporária, pela posse e uso de um bem (um par de chinelos...) que considera símbolo de alguma riqueza.
Depois é que notei que não precisava ter tentado elaborar tanto: naquele mesmo dia, a Polícia Federal desarticulou uma quadrilha especializada em vender diplomas falsos. Diplomas de instituições sérias que eram comercializados por um bom preço. Se os caras vendiam é porque tinha gente comprando - um diplominha que poderia garantir uma promoção, um empreguinho melhor. Para os clientes, trata-se de um crime menor: duvido que ocultassem isso de amigos, parentes ou vizinhos. Seriam capazes até de enquadrar e pendurar o papel na sala de casa.
Enfim, a escolha é, portanto, do cliente: o que é melhor? Diploma quente de uma escola fria ou diploma frio de escola/universidade quente?

É escandaloso comprar diplomas falsos? E o que dizer das centenas (milhares? É só procurar no Google) de pessoas que elaboram e vendem trabalhos de conclusão de curso, dissertações e teses? E o que dizer dos que compram os tais produtos?