12 de março de 2008

"Juno" - onde os homens não têm vez



"Juno" é um filme bonito, sensível, emocionante. O roteiro, vencedor do Oscar, foi escrito por uma mulher (Diablo Cody), o que ajuda a entender a delicada abordagem do tema e, principalmente, o ponto de vista feminino da história - uma jovem, Juno (Ellen Page), de 16 anos, que engravida e decide entregar o bebê para adoção. Os diálogos são inteligentes, ágeis; as soluções dramáticas fogem do previsível. Tudo colabora para enaltecer a lógica de Juno, uma garota encantadora, inteligente, decidida, nada óbvia. Até aí, ótimo. Se eu fosse adolescente seria capaz de me apaixonar por aquela menina.
Mas, horas depois de ver o filme, saquei algo meio incômodo. Para enaltecer Juno, o filme arrasa com os homens. Desde o início fica claro que a transa com um colega de turma que originou a gravidez foi iniciativa de Juno; é ela que decide abortar - vai sozinha para a clínica -, é ela que desiste de interromper a gravidez. É a super e bem-resolvida Juno que decide entregar o bebê para adoção, é ela que toma todas as decisões - inclusive as relacionadas com uma eventual retomada do namoro com Bleeker (Michael Cera). Este, não apita nada, não reclama de nenhuma decisão da moça, não demonstra o menor interesse no futuro do filho que, apesar de estar provisoriamente abrigado no corpo de Juno, é também dele: contribuiu, afinal, com 50% daquela empreitada. O lourinho boa gente só sabe correr, comer balinhas e, claro, por uma única vez, a Juno. Parece até que mandou bem, mas esta é outra história.
Mark (Jason Bateman), o homem do casal escolhido para ficar com o bebê, revela-se outro portador de grandes nádegas. Um sujeito dominado pela mulher que, ao conhecer Juno, tem uma espécie de recaída adolescente e passa a lamentar a vida que deixou de ter. E, ainda por cima, vacila num momento-chave do filme, demonstrando insegurança na hora de dar um grande passo do casal. A mulher dele, Vanessa (Jennifer Garner) revela-se mais, digamos, adulta. Já o pai da Juno é um bom sujeito, um cara que sabe segurar a onda da filha, cumpre o papel esperado na trama do filme. Em "Juno", homem legal é o que não passa de um coadjuvante, "escada" para as aventuras do personagem principal. Como o pai e, de certa forma, Bleeker.
No fim das contas, lembrei ter lido há pouco tempo que cientistas britânicos afirmaram ter criado espermatozóides a partir de células-tronco da medula óssea feminina. Ou seja, se o negócio vingar, nem pra isso serviremos mais. Pelo visto - e, moças, por favor, compreendam o machismo final apenas como um uivo ressentido de quem se vê meio sem perspectivas no futuro - só serviremos mesmo para manobrar carros. Isso, enquanto não vierem aqueles que têm movimentos nas rodas traseiras, que transformam o estacionar numa brincadeira de crianças.