2 de janeiro de 2008

Liberdade para a menina C.!


Para não cometer nenhuma infração ao Estatuto da Criança e do Adolescente, vou omitir o nome da menina que inspira esta crônica. Menina que se impõe - aos berros - ao texto. Explico: a C. é minha vizinha, mora num prédio ao lado do meu, deve ter uns 5/6 anos de idade. E, desde que era um bebê, chora e grita muito. Por problemas acústicos, tudo o que é sussurrado em seu apartamento é ouvido aqui em casa. Imagine o que acontece quando se grita por lá. E olha que se grita muito. Tanto que me vi obrigado a comprar um aparelho de ar-condicionado para o meu escritório. Sem ele, sem fechar as janelas, jamais conseguiria ter escrito o "O homem que morreu três vezes" - o relato das aventuras do meu curioso personagem naufragaria diante dos gritos da C. e, principalmente, dos berros de sua mãe.
A mãe, o X da questão. A mãe da menina grita o tempo todo com ela - desde que a C. era bebê. E tome de "C. não faz isso!", "C. sai daí!", "Pára com isso C.!", "C. você me enlouquece!", "Já pro castigo, C.!". Já pensei em sair grudando nos postes e nos muros da rua cartazes pedindo liberdade para C. A mãe dela deve ser veterana do Desipe, ex-carcereira, sei lá. A mulher enche o saco da filha, o tempo todo. Nunca a ouvi propor algo como uma ida ao parquinho, à praia, ao cinema. Nada de chamá-la para tomar um sorvete, um suco ali na esquina. A mulher só reclama. E a filha, claro, aprendeu a conviver com os gritos e - céus! - a reproduzi-los. A C. também só fala aos berros, e que voz potente tem a menina! Uma berra daqui, a outra responde dali. E tome birra, choros, esganiços. A compra, no Natal, de uma piscininha de plástico, acabou com o que restava de calma por aqui. Dava pra acompanhar, pelos diálogos, toda a movimentação na casa, as evoluções aquáticas da criança: o apartamento delas tem uma área externa, local de confraternização familiar e de sonoros e eventuais churrascos.
Bem, espero que em 2008 a mãe de C. encontre aquela paz tão citada nos votos de felicidades para os anos vindouros, que tenha um pouco mais de tranqüilidade nas suas relações com o mundo e, principalmente, com a filha. Que aprenda que não é necessário berrar o tempo inteiro. Talvez, neste silêncio, consiga descobrir virtudes na filha, tenha mais prazer na convivência com ela. E, quem sabe?, possa sacar como é bom poder desfrutar da companhia de um filho. Torço para ouvi-la convidar a filha para algo que não seja uma ida ao castigo. Vai ser bom para ela, para a C., para seus vizinhos.

Um comentário:

Marcelo Moutinho disse...

Sobretudo para os vizinhos rs