22 de janeiro de 2008

Sassaricando 2050

O post sobre o inglório destino dos sambas derrotados rendeu aqui no blog uma discussão interessante, com apenas uma ou outra canelada. A Eugenia, uma das editoras da Agenda do Samba e Choro - http://www.samba-choro.com.br/ - , chegou a propor o lançamento de um CD com sambas não escolhidos pelos jurados. Eu não pedi tanto, apenas reivindiquei o direito de, vez por outra, cantar um ou outro samba escanteado. Mas sei que é uma luta meio inglória: sambas vencedores já não duram muito, imagine o ocorre com os defenestrados...

Sambas de bloco são, de um modo geral, muito ligados ao contexto em que foram compostos e não têm qualquer pretensão à imortalidade. Mas talvez por isso mesmo mereçam ser guardados. Sua irresponsabilidade e descompromisso se traduzem em leveza e num certo ar de testemunho de época. Na prática, ocupam hoje o lugar das marchinhas - quem viu "Sassaricando" percebeu como elas, em décadas passadas, cumpriam o papel da sátira, da brincadeira, da crônica. Mais do que um ótimo espetáculo sobre marchinhas, "Sassaricando" é sobre o Rio, de como cariocas aproveitavam o carnaval para falar, de maneira bem-humorada, da cidade e do país.

Esse papel hoje é cumprido pelos blocos e seus sambas, que escrevem nas ruas um quase roteiro de nossas alegrias e sacanagens. Mesmo uma eventual agressividade de uma ou outra letra não deixa de ser um certo reflexo de tempos como o nosso, em que a sutileza tende a perder embates de goleada.

Pelo que sei - e não sei muito -, apenas o Simpatia lançou, há alguns anos, um CD com seus sambas. Acho que alguma instituição - o Arquivo Geral da Cidade ou o MIS - poderia lançar um projeto para recolher, catalogar e mesmo gravar os sambas (tá bom, só os vencedores) que os cariocas têm cantado pelas ruas antes e durante o carnaval. Todos seriam disponibilizados na internet. Não deve sair caro, não precisa de muita burocracia nem de pagamento de direitos autorais. Acho que a Sebastiana - entidade que reúne os blocos da zona sul - toparia ingressar nessa tarefa. "Sassaricando" existe porque as marchinhas foram registradas e gravadas, o que permitiu o trabalho de pesquisa da Rosa Maria Araújo e do Sérgio Cabral. Acho que não custa nada tentar garantir hoje o "Sassaricando" de 2050.

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