3 de março de 2008
O menino no sinal
A cena foi talvez lírica, talvez mais uma simples demonstração de miséria - ou as duas coisas, sei lá. Ocorreu na semana passada, no sinal que dá acesso à Radial Oeste, ali bem perto da UERJ. Um menino de dez anos - ou onze, ou doze, ou treze -, magro, sujo, descalço, esperou o sinal fechar para colocar-se diante da fila de carros. Em seguida, ensaiou o gesto de quem iria começar a fazer malabarismos com bolinhas de tênis. E iniciou a apresentação. Até aí, nada demais. O curioso é que não havia bolas. O menino mantinha o olhar no alto, movimentava alternadamente os braços, procurava equilibrar as bolinhas virtuais. Fazia isso muito sério: não sorria, não brincava com a situação um tanto quanto inusitada que promovia naquele início da tarde. Em troca do espetáculo, recebeu moedas tão virtuais quanto as suas bolinhas de tênis. Ninguém lhe estendeu um trocado sequer. Sinal aberto, ele sentou-se no canteiro com o mesmo ar triste. Eu já engatava uma segunda no momento em que passei por ele, pelo garoto que, ao protagonizar um espetáculo um tanto quanto patético, conseguiu ao menos chamar minha atenção para algo que já se tornou rotina: a presença de meninas e meninos, em horário escolar, pedindo dinheiro nos sinais. Ao engatar a terceira, lembrei o quanto isso é absurdo.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário