"Normalmente é no banco de trás. O banco é rebatível, sabe? Fica feito uma cama. Mas, de vez em quando, na pressa, é aqui na frente mesmo. Nesse banco aí que você tá sentado."
"Ahã", devo ter dito, enquanto conferia de maneira exagerada e caricatural o estado do assento, do banco do carona.
"Aqui tá tudo limpinho, né, companheiro?", brinquei: "Pelo visto tá tudo seco..."
O sujeito pareceu gostar da brincadeira. Ficou mais à vontade para prosseguir no relato de suas aventuras sexuais no táxi.
"Ali atrás - fez, com uma ligeira virada de rosto, uma referência à mala do carro - tenho tudo que precisa. Lençol, travesseiro, camisinha..."
Mas, e a violência, os assaltos? Não seria complicado namorar no carro hoje em dia? Onde é que ele parava o táxi? Havia alguns locais. Mas o preferido era um depósito de material de construção, lá perto de sua casa, em Nova Iguaçu. Estacionava bem atrás de um monte de areia.
As, digamos, passageiras eram fixas?
Variava, eu deveria saber. A namorada mesmo não gostava tanto dos malabarismos no táxi. Cliente de carteirinha mesmo era a filha de uma vizinha, 16 aninhos de pura sacanagem. Mal podia ver o táxi passar pela rua.
"Só as duas?"Ele fez um ar de cansaço, de quem anda rodando mais do que o razoável. Aquele jeito de quem diz isso-aqui-ainda-acaba-comigo.
"Que nada. Parece até que elas adivinham, que fazem sinal de propósito. Fingem que querem o táxi, mas ficam mesmo de olho no kit que tem lá na mala."
29 de janeiro de 2008
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