25 de fevereiro de 2008

Dor alvinegra (2)

Tudo bem que futebol seja talvez a melhor metáfora da vida - muita gente boa já disse isso (os argumentos a seguir são de outros, os transcrevo de memória): em esportes como vôlei e basquete são muitas as oportunidades de se fazer pontos; no futebol elas são escassas - como na vida. Nossas chances não são tantas assim, um simples vacilo e lá se vai a mulher, ou trabalho, ou a viagem. Babau. Futebol, com suas regras clássicas e pouco mudadas, representa também um teste para um sentimento de justiça. Parece que o Camus disse que num estádio de futebol, e apenas ali, conseguia se sentir inocente. Em tese, acreditamos que dentro das tais quatro linhas, a justiça vai se impor, soberana, acima das pressões. Mas, como na vida, isso não acontece. O futebol é injusto: por obra do acaso ou mesmo por roubalheira explícita, nem sempre o melhor vence. A gente sabe disso: mas o roubo no futebol, talvez por mexer com algo que tem valor apenas simbólico (nada mais abstrato que um título), machuca muito. Aquela sensação de criança que tem o doce roubado - um doce é tão barato, por que roubá-lo? Nessas horas fica difícil recuperar a inocência detectada por Camus.
Tudo bem, a vida continua, outros campeonatos virão, daqui a pouco a tristeza encontra forças para virar esperança. Mas, caramba, citando Drummond: é só um jogo, mas como dói.

Numa inútil tentativa de consolo, recorro, mais uma vez, a Paulo Mendes Campos.

"Sou preto e branco também, quero dizer, me destroço para pinçar nas pontas do mesmo compasso os dualismos do mundo, não aceito o maniqueísmo do bem e do mal, antes me obstino em admitir que no branco existe o preto e no preto, o branco.
(...)
O Botafogo é um clube com temperamento amadorístico, mas forçado, a fim de não ser engolido pelas feras, a profissionalizar-me ao máximo; também sou cem por cento um coração amador, compelido a viver a troco de soldo.
Reagimos ambos quando menos se espera; forra-nos, sem dúvida, um estofo neurótico. Se a vida fosse lógica, o Botafogo deixaria de levar o futebol a sério, fechando suas portas; eu, se a vida fosse lógica, deixaria de levar o mundo a sério, fechando os meus olhos.
(...)
O Botafogo, às vezes, se maltrata, como eu; o Botafogo é meio boêmio, como eu; o Botafogo sem Garrincha seria menos Botafogo, como eu; o Botafogo tem um pé em Minas Gerais, como eu; o Botafogo tem um possesso, como eu; o Botafogo é mais surpreendente do que conseqüente, como eu; ultimamente, o Botafogo anda cheio de cobras e lagartos, como eu.
O Botafogo é mais abstrato do que concreto; tem folhas secas; alterna o fervor com a indolência; às vezes, estranhamente, sai de uma derrota feia mais orgulhoso e mais botafogo do que se houvesse vencido; tudo isso, eu também.
Enfim, senhoras e senhores, o Botafogo é um tanto tantã (que nem eu). E a insígnia de meu coração é também (literatura) uma estrela solitária."

8 comentários:

Sergei Kostof disse...

Os poodles de butique choram... Devem chorar mesmo, repetir à exaustão aquele ataque de bichice no vestiário de bebeto, tulio e cia.
Se eu não ganho, num jogo mais, num torço mais, num dirijo mais... buáaaaaaaa! Num quero brincar mais disso. Manhêeeee!

1. Foi penalti. A zaga do foguinho sabia que era preciso neutralizar a cabeçada do Fabio Luciano a qualquer preço. O que foi feito.

2. Lucio Flavio peitou o juiz e mereceu o amarelo

3. Zé Carlos agrediu o Souza, que merecia ser expulso junto com o goleirinho ridículo _ que acabou poupado.

4. Não foi falta em Jorge henrique, notório cai-cai

5. Foi falta pra expulsão a agressão por trás do Lucio Flavio em Juan, independentemente do amarelo que recebera justamente antes.

6. E não foi o golaço do Tardelli que definiu o jogo e sim a incompetencia de Wellingotn Paulista, autor de outro golaço no jogo, no fimnalzinho ao ficar cara a cara com o goleiro, e do outro cretino que cabeceou na trave no último segundo. Por que o juiz ladrão não deu impedimento naquele lance? Porque o centroavante não estava. E se ele tivesse marcado? A choradeira seria a mesma?

Todo o resto é choro de perdedor. Repito, com direito a cenas de bichices de crianças mimadas no vestiário depois.



Mas, ao menos agora, os alvinegros têm sua razão para viver renovada: a síndrome persecutória, a teoria da conspiração. Serão mais alvinegros do que nunca. Vai gostar de perder assim lá em Gal. severiano. Caim, caim, caim!

"Não ganha nada..." você sabe cantar o resto.

abs

censura, não, moliquinha...

Fernando Molica disse...

Sérgio,
pulando esta história de bichice, vamos aos fatos.
1. Foi pênalti. Mas não houve a falta que o gerou. O Fábio Luciano não alcançaria a bola (o Obina chegou antes), portanto, não seria preciso "neutralizar" uma cabeçada que não haveria. Mas, no mesmo lance, o Túlio foi agarrado dentro da área, um pouco antes do pênalti. Falta de ataque, não marcada. E, insisto: duvido que o juiz marcasse aquele pênalti contra o seu time;

1.a - você se esqueceu de citar aquela bola atrasada para o Bruno: óbvio tiro indireto dentro da área. O juiz não viu? Desconhece a regra?

2. Lúcio Flávio não peitou o juiz. Merecia o amarelo pela falta, não pelo episódio do pênalti.

3. O Zé Carlos não agrediu o Souza. Estava atrás dele, tentou até segurá-lo. Se houve agressão, foi, se não me engano, do Alessandro.

4. O Castillo foi provocado pelo Souza, que não tinha nada que tentar pega a bola - o empate não interessava ao Botafogo. Tanto que o time, depois, com menos um, foi pro ataque (e tomou um gol por isso);
4. FOi falta no Jorge Henrique, notório apanhador-geral da República (no Brasileiro do ano passado foi o jogador que mais recebeu faltas);
5. O juiz deixou a porrada comer solta no primeiro tempo - chegou a ignorar várias faltas. Dentro desse critério, a falta do LF foi opra cartão amarelo.
6. O Wellington Paulista não estava impedido - vi na TV depois.
7. Vocês reclamaram quando foram roubados na Libertadores, no ano passado - jogo contra o Defensor. Não reclamam de roubo local porque, aqui, ninguém os rouba. O Kléber Leite chegou a falar em "conspiração" para facilitar a vida do Boca Juniors. E isso, claro, não é bichice
8. Não censuro ninguém, Sérgio.

Fernando Molica disse...

Ah, Sérgio: acabei de pescar na internet declarações de seu presidente sobre a eliminação na Libertadores no ano passado. Bichice?

abs.


"Nós fomos vítimas de um ladravaz"

A frase é de Kléber Leite, vice-presidente do Flamengo, em entrevista também a Juca Kfouri. Ele se refere ao árbitro argentino da partida entre Flamengo e Defensor, pelas oitavas de final da Copa Libertadores. "Eu não tenho dúvida de que esse árbitro argentino veio ao Rio de Janeiro para armar o resultado"..."e beneficiar o Boca Juniors".

Kléber afirma que o juíz fez o resultado do jogo e não admite a possibilidade de simples erros. Segundo ele, "há erros e erros, como o da nossa bandeirinha belíssima que se equivocou em dois lances dificílimos. Há outros que se equivocam também, até porque com essa tecnologia de hoje fica difícil competir".


Curtas

Chorando o Leite derramado

Kléber Leite, diretor de futebol do Flamengo, diz que a eliminação do Rubro-negro para o Defensor Sporting foi culpa da arbitragem. Segundo ele, foi esquema do Boca Juniors, que temia enfrentar os cariocas em fases mais avançadas da competição.

Sergei Kostof disse...

Meu caro molica,

Talvez tenha me expressado mal. Wellington Paulista não estava impedido ao perder aquele gol. Foi incompetente mesmo e poderia ter mudado o destino do jogo. A natureza não deixou. Tentou estufar as redes e isolou.

você pode ver o jogo com os olhos que quiser. não muda nada do que foi. mantenho todos os outros pontos.

acho que os botafoguenses gostam mesmo de chorar seu destino de sofredor, faz parte do folclore, da personagem da torcida. Para voces, perder é melhor, faz mais sentido.

bom mesmo era ganhar do vasco, esse sim sabia ser VICE sem chorar.

agora, bola pra frente. foi só um jogo. pode estar doendo ainda, mas acho que deviam parar com essa bichice e não estragar o resto do ano a exemplo do que fizeram em 2007 após a derrota pro river. não fosse esse tipo de ataque de amadorismo tão valorizado por vocês, estariam hoje disputando a libertadores, sem aquela bobajada toda do cuca, mario sergio, montenegro e outros cretinos.

repito: levanta a cabeça, bola pra frente, fogão tem time para ganhar a Taça Rio. Nos vemos na decisão.

eu sei que você não censura nada, é provocação, cumpadi. Mas chega. Já foi.

saudações rubro-negras, abraço o amigo

é créu!

Anônimo disse...

Ah primo agora que vi esse blog,gostei,rs...qto ao nosso fogão,ahhh...os URUBUS que me perdoem ele é elite ....

fuii

Roseli

Anônimo disse...

Roubos e Arroubos

Molica, pára de chorar. Só ontem eu vi o juiz apitando muito mal em dois lances favoráveis ao Flamengo: uma entrada criminosa do Ferrero no Cristian, que nem levou amarelo, assim como um impedimento mal marcado do Obina.

Usa os lenços que deixaram sobre a sua pasta na redação e refresque sua memória com roubos a favor do Botafogo que deram alguns dos mais importantes dos parcos títulos de sua gloriosa história:

UOL - 12/02/2006 - “A equipe rubra só não teve uma chance incisiva para ampliar por causa de um erro grosseiro do árbitro William de Souza Nery. Max saiu equivocadamente e deu um carrinho em cima de Chris, dentro da área. Mas Nery ignorou a entrada e não marcou o pênalti.”

UOL - 10/05/2007 - “Quatro dias depois de perder o título estadual para o Flamengo nos pênaltis, após ser prejudicado pela arbitragem, o Botafogo se recuperou do trauma em cima de um adversário que foi campeão regional no último domingo. E desta vez, sob a acusação de ter sido beneficiado por erro do juiz.”

Jornal Veja Agora (MA) – 17/11/2005 - “O grande herói do título alvinegro foi o atacante Túlio. Ele terminou como artilheiro da competição, com 23 gols, sendo o último marcado justamente no jogo de volta da final, no Pacaembu. Na época criou-se muita confusão em torno do gol, já que a televisão mostrou que Túlio estava em posição irregular, mas o árbitro Márcio Rezende de Freitas não marcou. Depois de muito tempo, Túlio confirma que estava em impedimento e, fazendo jus à fama de fanfarrão, dispara: - É lógico que eu estava impedido. Mas na hora foi tudo muito rápido e o árbitro não marcou. Ninguém é louco o bastante para anular um gol meu num jogo decisivo. Até hoje os torcedores me param na rua para agradecer os gols e o título. Aquele foi um ano inesquecível e que ficará na minha memória para sempre. Foi o ápice da minha carreira - afirmou Túlio.”

Bernardo Tabak – 25/02/2008 - Eu vi o Maurício empurrando o Leonardo pra dentro do gol na decisão do estadual de 1989.

Fernando Molica disse...

Sua visão é seletiva, caro Bernardo. Eu também vi esses lances. No caso do impedimento, o erro foi do bandeira - um erro de menos de meio metro. No ano passado, num lance mais fácil de ser marcado, o bandeira marcou impedimento do Dodô - que levou amarelo e foi expulso ao chutar em gol. Ontem, o Obina chutou - e não levou cartão. A entrada do Ferrero poderia mesmo ter gerado conseqüências terríveis - o juiz, pulha, sabia que errara antes e não foi rígido quando deveria ter sido.
Claro que o Botafogo foi beneficiado no jogo contra o América. Valeu a lógica do grande contra o pequeno - uma lógica que, com as devidas adaptações, está sendo utilizada agora no Rio, sempre favoravelmente ao Flamengo.
No posto sobre o jogo com o Atlético você reconhece que o Botafogo foi mesmo prejudicado na final do Carioca. Contra os mineiros, o juiz nos favoreceu - talvez com medo de mais reclamações, sei lá.
O Túlio estava impedido - foi tão rápido que nenhum jogador do Santos reclamou, só o Donizete olhou pro bandeirinha. Lembro que o gol do Santos também foi irregular, o atacante levou a bola com a mão antes de lançá-la.

Ah, nós somos chorões: o jogo que marcou o fim de nossa seca foi em 89 - vocês reclamam até agora...]

abs.

Fernando Molica disse...

Só pra completar. Sobre o gol do Santos em 95, o empate de 1X1.

Marquinhos capixaba meteu a mão direita na bola antes de lançá-la para o Marcelo Passos, que fez o gol.