Cientistas torraram uma grana e passaram horas e horas diante de computadores para reconstituir o rosto de Johann Sebastian Bach. Tudo isso para concluir que o genial compositor era a cara do Cid Benjamin.
29 de fevereiro de 2008
Palavra de cardiologista
O amigo, botafoguense e grande cardiologista Marcelo Assad me mandou o texto abaixo, que também aborda o comportamento do Souza, atacante do Flamengo. Por falar nisso, boa a atitude do Kléber Leite, vice de futebol do Flamengo, de ligar para o Bebeto de Freitas, presidente do Botafogo. É hora de baixar a bola e impedir que a tensão - agravada pelo gesto irresponsável do Souza - complique ainda mais a relação entre as duas torcidas. Sensatez nunca é demais, né?
Por via das dúvidas, acho que vou passar a ficar ao lado do Marcelo nos jogos do Botafogo. Pode ser útil ter um cardiologista por perto...
A cena patética e infeliz estampada na primeira página do Globo, retrata a irresponsabilidade, ausência de profissionalismo e respeito,de um pseudo "profissional" da arte da bola. Não podemos esperar que o Souza tenha a percepção e a sensibilidade para captar as consequências de sua grosseira e infantil atitude, muito própria dos campos de várzea ou do aterro do flamengo. Esperamos que pessoas ligadas ao Flamengo, portadoras de maior discernimento e entendimento, possam orientar este rapaz, que vêm se protagonizando por agressões físicas e morais à colegas de profissão e a torcedores que contribuem para seu desproporcional e exagerado salário. Até admitimos que ele lance mão de artifícios para sobressair e aparecer, já que não será por sua qualidade ou capacidade profissional que alcançará êxito nesta empreitada. Reflitamos se algum craque do passado como: Nilton Santos, Garrincha, Pelé, Tostão, Gérson, Zico, Falcão ou Roberto Dinamite agiram em algum momento com tamanha imbecilidade. O que nos conforta é ter a certeza que jogadores assim, não representam nada e que num curto espaço de tempo, ninguém mais se lembrará deste nome.A rivalidade entre os clubes sempre existiu e sempre existirá, mas que se mantenha no patamar do amor, da torcida ao seu clube e que não tenha a contribuição dos profissionais para que a violência e a insensatez imperem.
Marcelo Assad
Rio de Janeiro
Por via das dúvidas, acho que vou passar a ficar ao lado do Marcelo nos jogos do Botafogo. Pode ser útil ter um cardiologista por perto...
A cena patética e infeliz estampada na primeira página do Globo, retrata a irresponsabilidade, ausência de profissionalismo e respeito,de um pseudo "profissional" da arte da bola. Não podemos esperar que o Souza tenha a percepção e a sensibilidade para captar as consequências de sua grosseira e infantil atitude, muito própria dos campos de várzea ou do aterro do flamengo. Esperamos que pessoas ligadas ao Flamengo, portadoras de maior discernimento e entendimento, possam orientar este rapaz, que vêm se protagonizando por agressões físicas e morais à colegas de profissão e a torcedores que contribuem para seu desproporcional e exagerado salário. Até admitimos que ele lance mão de artifícios para sobressair e aparecer, já que não será por sua qualidade ou capacidade profissional que alcançará êxito nesta empreitada. Reflitamos se algum craque do passado como: Nilton Santos, Garrincha, Pelé, Tostão, Gérson, Zico, Falcão ou Roberto Dinamite agiram em algum momento com tamanha imbecilidade. O que nos conforta é ter a certeza que jogadores assim, não representam nada e que num curto espaço de tempo, ninguém mais se lembrará deste nome.A rivalidade entre os clubes sempre existiu e sempre existirá, mas que se mantenha no patamar do amor, da torcida ao seu clube e que não tenha a contribuição dos profissionais para que a violência e a insensatez imperem.
Marcelo Assad
Rio de Janeiro
28 de fevereiro de 2008
Horário da lua
Mudando de assunto: o release da Prefeitura do Rio já é meio velhinho, mas vale reproduzi-lo aqui. Trata da programação do Planetário para o eclipse ocorrido agora, em fevereiro. Na pressa, o coleguinha que o redigiu, escorregou ao acentuar a palavra "nu" - isso passa. O mais curioso é o horário em que, segundo o comunicado, o eclipse atingiria seu ápice: 24h46 - ou catorze minutos para as vinte e cinco horas. O tal do eclipse mexeu tanto com o nosso planeta que acabou gerando um dia de 25 horas. O pior é que o release - que pode ser lido em http://www.rio.rj.gov.br/pcrj/verao2008/ - foi reproduzido em vários sites, com o tal horário de 24h46. É só fazer uma busca no Google.
Planetário distribui senhas para ver eclipse total da lua na quarta-feira
Depois de amanhã, quarta-feira, o eclipse total da lua poderá ser acompanhado pelos interessados, no Planetário da Cidade, na Gávea, que distribuirá gratuitamente 260 senhas aos vistantes a partir das 22h.
O início do eclipse, que também poderá ser visto a olho nú, está previsto para 22h43 e atingirá seu ápice à (ôps!) 24h26, terminando às 2h09 da madrugada de quinta-feira.
Com sede na Rua Vice-Governador Rubens Berardo, 100, a Fundação Planetário do Rio de Janeiro dispõe de quatro telescópios modernos em cúpulas de observação com aberturas em forma de fenda que podem localizar até 64 mil objetos no céu. Mais informações podem ser obtifdas pelao telefone 2274-0046.
Postado em 18 de fevereiro de 2008.
Planetário distribui senhas para ver eclipse total da lua na quarta-feira
Depois de amanhã, quarta-feira, o eclipse total da lua poderá ser acompanhado pelos interessados, no Planetário da Cidade, na Gávea, que distribuirá gratuitamente 260 senhas aos vistantes a partir das 22h.
O início do eclipse, que também poderá ser visto a olho nú, está previsto para 22h43 e atingirá seu ápice à (ôps!) 24h26, terminando às 2h09 da madrugada de quinta-feira.
Com sede na Rua Vice-Governador Rubens Berardo, 100, a Fundação Planetário do Rio de Janeiro dispõe de quatro telescópios modernos em cúpulas de observação com aberturas em forma de fenda que podem localizar até 64 mil objetos no céu. Mais informações podem ser obtifdas pelao telefone 2274-0046.
Postado em 18 de fevereiro de 2008.
O gesto do Souza e o ministro do Chico
A nova letra que a torcida do Flamengo fez para a "Ninguém cala..." é, admito, engraçada. Melhor isso do que dizer que vai matar, trucidar. Sacanear a torcida adversária faz parte do jogo, da brincadeira - assim como reclamar do juiz. A sátira lembra aquela outra, sobre o pior ataque do mundo, feita há tempos pela torcida do Vasco.
Mas fiquei preocupado quando, ontem à noite, vi pela internet que o Souza fingiu que chorava ao comemorar o gol que fez contra o tal do Cienciano. Uma outra ironia com a reação dos jogadores, técnico e presidente do Botafogo depois do jogo de domingo. Torcida é torcida, mas o Souza... O cara volta e meia comemora gols fazendo, com as mãos, o gesto de quem dispara uma arma - negócio meio complicado pra quem vive numa cidade violenta como a nossa. Soube há pouco, por um amigo flamenguista, que volta e meia o mesmo jogador faz outro gesto, cruza os punhos cerrados sobre a cabeça - algo que remeteria para um outro tipo de organização, daquelas que disputam territórios em morros cariocas. Céus!
No domingo, o Souza começou toda aquela desnecessária confusão depois do primeiro gol do Flamengo - o empate não era bom pro Botafogo, não haveria porque seus jogadores retardarem o reinício da partida. O Souza não precisava ir lá disputar a bola com o Castillo. Agora, o sujeito sacaneia todo o Botafogo - jogadores, dirigentes, técnicos e, mesmo, torcedores. Sacaneia colegas de trabalho, incita a torcida, acirra ânimos. Espero que isso não renda mais confusão. Mas, do jeito que as coisas andam - lembremos que um torcedor do Botafogo foi morto depois do jogo de domingo -, tende a dar merda. Faltou à diretoria do Flamengo um diretor do "Vai dar merda", um equivalente clubístico ao ministério que o Chico Buarque sugeriu ao governo federal. Alguém que, há algum tempo, tivesse dado uma bronca no Souza. O problema é que, de um modo geral, dirigente adora qualquer gesto que o identifique com a torcida. Mesmo que isso causa problemas lá na frente, que coloque ainda mais em risco a vida dos que se dispõem a ver jogos no Maracanã.
Acho que os dirigentes do Botafogo e do Flamengo poderiam tentar dar um jeito de diminuir esta tensão, os dois times vão se enfrentar em breve, na disputa pela Taça Rio. O Botafogo reclamou do juiz, mas sequer insinuou participação da diretoria do Flamengo numa suposta armação - isso abre caminho para um entendimento. Repito o que já andei dizendo em comentários anteriores: muitos e muitos torcedores deixam de ir ao Maracanã quando seus times enfrentam o Flamengo. Não por medo de perder, mas por medo de apanhar. A torcida do Flamengo não detém o monopólio da estupidez nem da violência (nisso, todas as organizadas tradicionais se equivalem), mas, por ser muito maior que as outras, tem exercitado mais essas, digamos, características. Enfim, cabe aos dirigentes - e também a nós, jornalistas - contribuírem para segurar as pontas. A irresponsabilidade de um jogador não pode colaborar para o aumento de uma já assustadora violência nos estádios e em volta deles.
Mas fiquei preocupado quando, ontem à noite, vi pela internet que o Souza fingiu que chorava ao comemorar o gol que fez contra o tal do Cienciano. Uma outra ironia com a reação dos jogadores, técnico e presidente do Botafogo depois do jogo de domingo. Torcida é torcida, mas o Souza... O cara volta e meia comemora gols fazendo, com as mãos, o gesto de quem dispara uma arma - negócio meio complicado pra quem vive numa cidade violenta como a nossa. Soube há pouco, por um amigo flamenguista, que volta e meia o mesmo jogador faz outro gesto, cruza os punhos cerrados sobre a cabeça - algo que remeteria para um outro tipo de organização, daquelas que disputam territórios em morros cariocas. Céus!
No domingo, o Souza começou toda aquela desnecessária confusão depois do primeiro gol do Flamengo - o empate não era bom pro Botafogo, não haveria porque seus jogadores retardarem o reinício da partida. O Souza não precisava ir lá disputar a bola com o Castillo. Agora, o sujeito sacaneia todo o Botafogo - jogadores, dirigentes, técnicos e, mesmo, torcedores. Sacaneia colegas de trabalho, incita a torcida, acirra ânimos. Espero que isso não renda mais confusão. Mas, do jeito que as coisas andam - lembremos que um torcedor do Botafogo foi morto depois do jogo de domingo -, tende a dar merda. Faltou à diretoria do Flamengo um diretor do "Vai dar merda", um equivalente clubístico ao ministério que o Chico Buarque sugeriu ao governo federal. Alguém que, há algum tempo, tivesse dado uma bronca no Souza. O problema é que, de um modo geral, dirigente adora qualquer gesto que o identifique com a torcida. Mesmo que isso causa problemas lá na frente, que coloque ainda mais em risco a vida dos que se dispõem a ver jogos no Maracanã.
Acho que os dirigentes do Botafogo e do Flamengo poderiam tentar dar um jeito de diminuir esta tensão, os dois times vão se enfrentar em breve, na disputa pela Taça Rio. O Botafogo reclamou do juiz, mas sequer insinuou participação da diretoria do Flamengo numa suposta armação - isso abre caminho para um entendimento. Repito o que já andei dizendo em comentários anteriores: muitos e muitos torcedores deixam de ir ao Maracanã quando seus times enfrentam o Flamengo. Não por medo de perder, mas por medo de apanhar. A torcida do Flamengo não detém o monopólio da estupidez nem da violência (nisso, todas as organizadas tradicionais se equivalem), mas, por ser muito maior que as outras, tem exercitado mais essas, digamos, características. Enfim, cabe aos dirigentes - e também a nós, jornalistas - contribuírem para segurar as pontas. A irresponsabilidade de um jogador não pode colaborar para o aumento de uma já assustadora violência nos estádios e em volta deles.
26 de fevereiro de 2008
Chororô rubro-negro (pra não dizer que só nosostros reclamamos - e pra encerrar logo esse assunto)
1. 09/05/07
Renato: 'Esse juiz é uma m...'
Autor de dois gols, camisa 11 reclama da atuação do árbitro argentino no Maracanã
Márcio Iannacca - Do GLOBOESPORTE.COM, no Rio de Janeiro
O meia Renato, autor de dois gols na vitória do Flamengo por 2 a 0 sobre o Defensor, do Uruguai, pela Taça Libertadores, reclamou da atuação do árbitro argentino Héctor Baldassi. De acordo com o jogador, o juiz deixou de marcar algumas faltas e foi conivente com os atletas do time uruguaio, que retardavam o jogo a todo momento.No fim da partida, Renato correu em direção ao árbitro para reclamar de sua atuação. Contido pelos companheiros, o jogador desabafou:
- O time ficou 90 minutos em cima deles. Jogamos em cima e o nosso time se arriscou o tempo todo. O juiz amarrou o jogo. Esse juiz é uma m... - esbraveja Renato.
2. 10/05/2007 -
Resultado serve para o Boca, diz Kléber
Dirigente xinga árbitro e diz que vai perseguir o argentino até o fim de sua vida
Márcio Iannacca - Do GLOBOESPORTE.COM, no Rio de Janeiro
O vice-presidente de futebol do Flamengo, Kléber Leite, estava revoltado com a atuação do árbitro argentino Héctor Baldassi. O dirigente insinuou que o juiz conduziu a partida para que o Rubro-negro fosse eliminado e, no futuro, não cruzasse com o Boca Juniors. As duas equipes poderiam se enfrentar na semifinal da Taça Libertadores.
- Não sei se vai valer alguma coisa, mas quero que todos saibam o que esse juiz fez aqui. Ele é um ladrão, safado. O Boca Juniors tinha interesse nessa partida. Tenho um bom relacionamento com o pessoal da Conmebol e vamos fazer uma reclamação por escrito - diz Kléber.
O dirigente foi além e afirmou que vai perseguir Baldassi pelo resto da vida.
- Ele vai me aturar pelo resto de sua vida. Ele ganhou um inimigo na vida. Vou atrás dele até o fim - ameaça o dirigente rubro-negro.
3. "Nós fomos vítimas de um ladravaz"
A frase é de Kléber Leite, vice-presidente do Flamengo, em entrevista também a Juca Kfouri. Ele se refere ao árbitro argentino da partida entre Flamengo e Defensor, pelas oitavas de final da Copa Libertadores. "Eu não tenho dúvida de que esse árbitro argentino veio ao Rio de Janeiro para armar o resultado"..."e beneficiar o Boca Juniors".Kléber afirma que o juíz fez o resultado do jogo e não admite a possibilidade de simples erros. Segundo ele, "há erros e erros, como o da nossa bandeirinha belíssima que se equivocou em dois lances dificílimos. Há outros que se equivocam também, até porque com essa tecnologia de hoje fica difícil competir".
Renato: 'Esse juiz é uma m...'
Autor de dois gols, camisa 11 reclama da atuação do árbitro argentino no Maracanã
Márcio Iannacca - Do GLOBOESPORTE.COM, no Rio de Janeiro
O meia Renato, autor de dois gols na vitória do Flamengo por 2 a 0 sobre o Defensor, do Uruguai, pela Taça Libertadores, reclamou da atuação do árbitro argentino Héctor Baldassi. De acordo com o jogador, o juiz deixou de marcar algumas faltas e foi conivente com os atletas do time uruguaio, que retardavam o jogo a todo momento.No fim da partida, Renato correu em direção ao árbitro para reclamar de sua atuação. Contido pelos companheiros, o jogador desabafou:
- O time ficou 90 minutos em cima deles. Jogamos em cima e o nosso time se arriscou o tempo todo. O juiz amarrou o jogo. Esse juiz é uma m... - esbraveja Renato.
2. 10/05/2007 -
Resultado serve para o Boca, diz Kléber
Dirigente xinga árbitro e diz que vai perseguir o argentino até o fim de sua vida
Márcio Iannacca - Do GLOBOESPORTE.COM, no Rio de Janeiro
O vice-presidente de futebol do Flamengo, Kléber Leite, estava revoltado com a atuação do árbitro argentino Héctor Baldassi. O dirigente insinuou que o juiz conduziu a partida para que o Rubro-negro fosse eliminado e, no futuro, não cruzasse com o Boca Juniors. As duas equipes poderiam se enfrentar na semifinal da Taça Libertadores.
- Não sei se vai valer alguma coisa, mas quero que todos saibam o que esse juiz fez aqui. Ele é um ladrão, safado. O Boca Juniors tinha interesse nessa partida. Tenho um bom relacionamento com o pessoal da Conmebol e vamos fazer uma reclamação por escrito - diz Kléber.
O dirigente foi além e afirmou que vai perseguir Baldassi pelo resto da vida.
- Ele vai me aturar pelo resto de sua vida. Ele ganhou um inimigo na vida. Vou atrás dele até o fim - ameaça o dirigente rubro-negro.
3. "Nós fomos vítimas de um ladravaz"
A frase é de Kléber Leite, vice-presidente do Flamengo, em entrevista também a Juca Kfouri. Ele se refere ao árbitro argentino da partida entre Flamengo e Defensor, pelas oitavas de final da Copa Libertadores. "Eu não tenho dúvida de que esse árbitro argentino veio ao Rio de Janeiro para armar o resultado"..."e beneficiar o Boca Juniors".Kléber afirma que o juíz fez o resultado do jogo e não admite a possibilidade de simples erros. Segundo ele, "há erros e erros, como o da nossa bandeirinha belíssima que se equivocou em dois lances dificílimos. Há outros que se equivocam também, até porque com essa tecnologia de hoje fica difícil competir".
25 de fevereiro de 2008
Dor alvinegra (2)
Tudo bem que futebol seja talvez a melhor metáfora da vida - muita gente boa já disse isso (os argumentos a seguir são de outros, os transcrevo de memória): em esportes como vôlei e basquete são muitas as oportunidades de se fazer pontos; no futebol elas são escassas - como na vida. Nossas chances não são tantas assim, um simples vacilo e lá se vai a mulher, ou trabalho, ou a viagem. Babau. Futebol, com suas regras clássicas e pouco mudadas, representa também um teste para um sentimento de justiça. Parece que o Camus disse que num estádio de futebol, e apenas ali, conseguia se sentir inocente. Em tese, acreditamos que dentro das tais quatro linhas, a justiça vai se impor, soberana, acima das pressões. Mas, como na vida, isso não acontece. O futebol é injusto: por obra do acaso ou mesmo por roubalheira explícita, nem sempre o melhor vence. A gente sabe disso: mas o roubo no futebol, talvez por mexer com algo que tem valor apenas simbólico (nada mais abstrato que um título), machuca muito. Aquela sensação de criança que tem o doce roubado - um doce é tão barato, por que roubá-lo? Nessas horas fica difícil recuperar a inocência detectada por Camus.
Tudo bem, a vida continua, outros campeonatos virão, daqui a pouco a tristeza encontra forças para virar esperança. Mas, caramba, citando Drummond: é só um jogo, mas como dói.
Numa inútil tentativa de consolo, recorro, mais uma vez, a Paulo Mendes Campos.
"Sou preto e branco também, quero dizer, me destroço para pinçar nas pontas do mesmo compasso os dualismos do mundo, não aceito o maniqueísmo do bem e do mal, antes me obstino em admitir que no branco existe o preto e no preto, o branco.
(...)
O Botafogo é um clube com temperamento amadorístico, mas forçado, a fim de não ser engolido pelas feras, a profissionalizar-me ao máximo; também sou cem por cento um coração amador, compelido a viver a troco de soldo.
Reagimos ambos quando menos se espera; forra-nos, sem dúvida, um estofo neurótico. Se a vida fosse lógica, o Botafogo deixaria de levar o futebol a sério, fechando suas portas; eu, se a vida fosse lógica, deixaria de levar o mundo a sério, fechando os meus olhos.
(...)
O Botafogo, às vezes, se maltrata, como eu; o Botafogo é meio boêmio, como eu; o Botafogo sem Garrincha seria menos Botafogo, como eu; o Botafogo tem um pé em Minas Gerais, como eu; o Botafogo tem um possesso, como eu; o Botafogo é mais surpreendente do que conseqüente, como eu; ultimamente, o Botafogo anda cheio de cobras e lagartos, como eu.
O Botafogo é mais abstrato do que concreto; tem folhas secas; alterna o fervor com a indolência; às vezes, estranhamente, sai de uma derrota feia mais orgulhoso e mais botafogo do que se houvesse vencido; tudo isso, eu também.
Enfim, senhoras e senhores, o Botafogo é um tanto tantã (que nem eu). E a insígnia de meu coração é também (literatura) uma estrela solitária."
Tudo bem, a vida continua, outros campeonatos virão, daqui a pouco a tristeza encontra forças para virar esperança. Mas, caramba, citando Drummond: é só um jogo, mas como dói.
Numa inútil tentativa de consolo, recorro, mais uma vez, a Paulo Mendes Campos.
"Sou preto e branco também, quero dizer, me destroço para pinçar nas pontas do mesmo compasso os dualismos do mundo, não aceito o maniqueísmo do bem e do mal, antes me obstino em admitir que no branco existe o preto e no preto, o branco.
(...)
O Botafogo é um clube com temperamento amadorístico, mas forçado, a fim de não ser engolido pelas feras, a profissionalizar-me ao máximo; também sou cem por cento um coração amador, compelido a viver a troco de soldo.
Reagimos ambos quando menos se espera; forra-nos, sem dúvida, um estofo neurótico. Se a vida fosse lógica, o Botafogo deixaria de levar o futebol a sério, fechando suas portas; eu, se a vida fosse lógica, deixaria de levar o mundo a sério, fechando os meus olhos.
(...)
O Botafogo, às vezes, se maltrata, como eu; o Botafogo é meio boêmio, como eu; o Botafogo sem Garrincha seria menos Botafogo, como eu; o Botafogo tem um pé em Minas Gerais, como eu; o Botafogo tem um possesso, como eu; o Botafogo é mais surpreendente do que conseqüente, como eu; ultimamente, o Botafogo anda cheio de cobras e lagartos, como eu.
O Botafogo é mais abstrato do que concreto; tem folhas secas; alterna o fervor com a indolência; às vezes, estranhamente, sai de uma derrota feia mais orgulhoso e mais botafogo do que se houvesse vencido; tudo isso, eu também.
Enfim, senhoras e senhores, o Botafogo é um tanto tantã (que nem eu). E a insígnia de meu coração é também (literatura) uma estrela solitária."
Dor alvinegra (1)
O Fernando Calazans classificou de "ridículo" o episódio ocorrido ontem no vestiário do Botafogo: a revolta do Cuca, o choro de jogadores e do presidente Bebeto de Freitas. O Calazans foi duro, chamou a cena de "descabida", disse que o técnico alvinegro atuou como um ator canastrão. Engraçado que o rigor tenha vindo de um cronista que tanto prega pela volta de valores meio esquecidos no nosso futebol: na sua coluna, ele defende o jogo limpo e o drible, condena a violência, exalta as equipes que partem para o ataque. Valores que - nestes tempos de "créu", de jogador que comemora gol imitando o gesto de disparar um fuzil - chegam a dar um certo ar nostálgico à sua coluna. Volta e meia o Calazans lembra um daqueles pregadores que berram profecias e anunciam apocalipses no meio de uma multidão indiferente, que sequer esconde um certo riso ao ver o sujeito, terno-e-gravata surrados, a clamar pela salvação.
O Calazans que, certo de sua fé, não teme ser chamado de retrógrado, incorporou, no jornal desta segunda-feira, um pouco do pragmatismo pit-bull que domina nosso futebol e, mesmo, tantos e tantos aspectos da política e das relações aqui no Brasil. Para o cronista, a revolta e o choro não passaram de manifestações ridículas. Engraçado, eu, como leitor habitual de sua coluna, achei que ele poderia até não exaltar a cena, mas, pelo menos, nela veria o ressurgimento de valores importantes, comuns em outros tempos. Tempos em que jogadores tinham sim amor pela camisa, em que dirigentes eram homens apaixonados pelos clubes e não enriqueciam nos cargos. O choro e a revolta de ontem, Calazans, pareceram ser sinceros. Expressavam o desencanto com uma lógica cruel, uma rendição ao poder do clube hegemônico.
No ano passado, o Botafogo foi prejudicado na final contra o mesmo Flamengo. Ontem, isto voltou a ocorrer - duvido que o juiz marcasse aquele pênalti a favor do Botafogo, não consigo entender como ele não apitou quando o Bruno agarrou uma bola atrasada com o pé por um jogador da defesa rubro-negra. Roubo explícito? Não, apenas sucessivas manifestações de boa vontade com um time que hoje concentra o poder no futebol carioca. Como disse aquele juiz assumidamente ladrão - o Edílson -, para prejudicar um time não é preciso anular gols ou marcar pênaltis inexistentes. Basta irritar, inverter uma ou outra falta, tirar o equilíbrio dos jogadores adversários.
O desabafo dos jogadores alvinegros ontem, Calazans, expressou a perda do tal equilíbrio, a revolta com mais uma injustiça. Como muitas e muitas outras manifestações humanas - o amor, por exemplo - ficou ali, na fronteira entre o sublime e o ridículo. Esta capacidade de nos expor é que nos torna humanos, imprevisíveis. Pena que você tenha optado - créu! - por cravar a opção do ridículo e não ter feito nenhuma concessão ao sublime da cena.
O Calazans que, certo de sua fé, não teme ser chamado de retrógrado, incorporou, no jornal desta segunda-feira, um pouco do pragmatismo pit-bull que domina nosso futebol e, mesmo, tantos e tantos aspectos da política e das relações aqui no Brasil. Para o cronista, a revolta e o choro não passaram de manifestações ridículas. Engraçado, eu, como leitor habitual de sua coluna, achei que ele poderia até não exaltar a cena, mas, pelo menos, nela veria o ressurgimento de valores importantes, comuns em outros tempos. Tempos em que jogadores tinham sim amor pela camisa, em que dirigentes eram homens apaixonados pelos clubes e não enriqueciam nos cargos. O choro e a revolta de ontem, Calazans, pareceram ser sinceros. Expressavam o desencanto com uma lógica cruel, uma rendição ao poder do clube hegemônico.
No ano passado, o Botafogo foi prejudicado na final contra o mesmo Flamengo. Ontem, isto voltou a ocorrer - duvido que o juiz marcasse aquele pênalti a favor do Botafogo, não consigo entender como ele não apitou quando o Bruno agarrou uma bola atrasada com o pé por um jogador da defesa rubro-negra. Roubo explícito? Não, apenas sucessivas manifestações de boa vontade com um time que hoje concentra o poder no futebol carioca. Como disse aquele juiz assumidamente ladrão - o Edílson -, para prejudicar um time não é preciso anular gols ou marcar pênaltis inexistentes. Basta irritar, inverter uma ou outra falta, tirar o equilíbrio dos jogadores adversários.
O desabafo dos jogadores alvinegros ontem, Calazans, expressou a perda do tal equilíbrio, a revolta com mais uma injustiça. Como muitas e muitas outras manifestações humanas - o amor, por exemplo - ficou ali, na fronteira entre o sublime e o ridículo. Esta capacidade de nos expor é que nos torna humanos, imprevisíveis. Pena que você tenha optado - créu! - por cravar a opção do ridículo e não ter feito nenhuma concessão ao sublime da cena.
22 de fevereiro de 2008
Páginas amarelas/ No balanço de Cuba (1)
Estive em Cuba duas vezes, em 1985 e em 1994. O texto abaixo foi publicado em 17/11/94 no caderno de turismo da Folha. Já está meio desatualizado, muita coisa mudou por lá: até o presidente, quem diria? Mas acho que dá para dar um panorama geral e despretensioso sobre as contradições que já então se assanhavam pela ilha.
Bairro histórico lembra antigo pelourinho
Do enviado especial a Cuba
Cuba mudou mito. De singular tentativa socialista, transformou-se em uma ilha plural. Há o país oficial e o paralelo, o do peso e o do dólar, o do cubano e o do turista. O melhor desta esquizofrenia político-social-econômica é que se pode visitar ambos ou apenas um, ver o que restou do socialismo ou simplesmente ir à praia.
Cuba é possivelmente o único país do mundo em que funcionárias públicas trabalham com as nádegas de fora. Não se trata de mais uma tara daqueles comunistas barbudos. As tais funcionárias são bailarinas de algumas das mais animadas repartições do mundo: os cabarés cubanos.
Em uma quase metáfora das dificuldades do país, os há até poucos anos imensos biquínis revelam hoje escassez de tecido e exaltação de ousadia e liberalização.
Fora o socialismo, as duas Cubas - a do turista e a do cubano - continuam muito parecidas com a nossa Salvador: na ilha não há a miséria baiana. Em compensação, as construções do "novo" Pelourinho dão um banho nos mal conservados casarões e palácios de Havana Velha, bairro histórico da capital cubana.
Lá, como aqui, Iemanjá é Iemanjá. Ogum é Ogum etc. Herança iorubá: nação africana de onde foram levados escravos que serviram às então colônias espanhola e portuguesa. Cubano é parecido com baiano até no desrespeito aos horários - e o pior é que lá todo mundo é funcionário público.
A fronteira das duas Cubas é marcada por uma linha imaginária formada por notas de dólares. Na ilha há os com-dólares e os sem-dólares. Os primeiros podem até dizer que o paraíso não é algo assim tão distante e não fica necessariamente a menos de 200 km ao norte, na Flórida.
Já os sem-dólares são obrigados a viver com o peso, moeda que, se ainda oferece alguma garantia contra o inferno da fome, serve, no máximo, para comprar um lugar nas arquibancadas do purgatório.
Para o turista não há opção: ele está entre os que têm dólares. O peso fica ainda mais leve para o estrangeiro e tem apenas a discutível utilidade de servir como recordação.
Com algum jeito, dá até para se sentir um milionário norte-americano em Copacabana. Isto, até na desvantagem de ser assediado por: 1) meninos (e velhos) pedindo dinheiro (dólar, claro, Fidel Castro já disse que "o real não cheira bem"); 2) funcionários públicos oferecendo rum e charutos a preços que, garantem, ser de ocasião; 3) dezenas de pessoas querendo saber detalhes dos próximos capítulos da novela "Felicidade".
A parte pobre do país, que inclui Havana Velha, é uma mistura de subúrbio carioca com Pelourinho pré-reforma. Apesar da pobreza, do mau estado de conservação dos prédios, dos pedintes, dos traficantes de rum e dos noveleiros, ir a Havana Velha é tão fundamental quanto beber mojitos ou daiquiris, drinques feitos com rum.
Para quem saiu do Brasil disposto a ficar distante de pobres e novelas, o melhor é correr para Varadero, a 140 km da capital, e ficar de molho no mar com águas a 25ºC.
Bairro histórico lembra antigo pelourinho
Do enviado especial a Cuba
Cuba mudou mito. De singular tentativa socialista, transformou-se em uma ilha plural. Há o país oficial e o paralelo, o do peso e o do dólar, o do cubano e o do turista. O melhor desta esquizofrenia político-social-econômica é que se pode visitar ambos ou apenas um, ver o que restou do socialismo ou simplesmente ir à praia.
Cuba é possivelmente o único país do mundo em que funcionárias públicas trabalham com as nádegas de fora. Não se trata de mais uma tara daqueles comunistas barbudos. As tais funcionárias são bailarinas de algumas das mais animadas repartições do mundo: os cabarés cubanos.
Em uma quase metáfora das dificuldades do país, os há até poucos anos imensos biquínis revelam hoje escassez de tecido e exaltação de ousadia e liberalização.
Fora o socialismo, as duas Cubas - a do turista e a do cubano - continuam muito parecidas com a nossa Salvador: na ilha não há a miséria baiana. Em compensação, as construções do "novo" Pelourinho dão um banho nos mal conservados casarões e palácios de Havana Velha, bairro histórico da capital cubana.
Lá, como aqui, Iemanjá é Iemanjá. Ogum é Ogum etc. Herança iorubá: nação africana de onde foram levados escravos que serviram às então colônias espanhola e portuguesa. Cubano é parecido com baiano até no desrespeito aos horários - e o pior é que lá todo mundo é funcionário público.
A fronteira das duas Cubas é marcada por uma linha imaginária formada por notas de dólares. Na ilha há os com-dólares e os sem-dólares. Os primeiros podem até dizer que o paraíso não é algo assim tão distante e não fica necessariamente a menos de 200 km ao norte, na Flórida.
Já os sem-dólares são obrigados a viver com o peso, moeda que, se ainda oferece alguma garantia contra o inferno da fome, serve, no máximo, para comprar um lugar nas arquibancadas do purgatório.
Para o turista não há opção: ele está entre os que têm dólares. O peso fica ainda mais leve para o estrangeiro e tem apenas a discutível utilidade de servir como recordação.
Com algum jeito, dá até para se sentir um milionário norte-americano em Copacabana. Isto, até na desvantagem de ser assediado por: 1) meninos (e velhos) pedindo dinheiro (dólar, claro, Fidel Castro já disse que "o real não cheira bem"); 2) funcionários públicos oferecendo rum e charutos a preços que, garantem, ser de ocasião; 3) dezenas de pessoas querendo saber detalhes dos próximos capítulos da novela "Felicidade".
A parte pobre do país, que inclui Havana Velha, é uma mistura de subúrbio carioca com Pelourinho pré-reforma. Apesar da pobreza, do mau estado de conservação dos prédios, dos pedintes, dos traficantes de rum e dos noveleiros, ir a Havana Velha é tão fundamental quanto beber mojitos ou daiquiris, drinques feitos com rum.
Para quem saiu do Brasil disposto a ficar distante de pobres e novelas, o melhor é correr para Varadero, a 140 km da capital, e ficar de molho no mar com águas a 25ºC.
21 de fevereiro de 2008
Isso me irrita! (2)
Telemarketing em geral. Um tipo de telemarketing em particular: a moça liga para o seu celular, se identifica como funcionária de uma operadora concorrente e pergunta (céus!) o nome de quem está falando. Aconteceu comigo umas três ou quatro vezes. Em todas perguntei para a mulher como é que ela tinha a cara-de-pau de ligar para alguém cujo nome ignorava.
18 de fevereiro de 2008
O show dos subsídios
O Ancelmo Góis publicou, o Marcelo Moutinho comentou (www.marcelomoutinho.com.br) - com um título pra lá de sugestivo, "E vai rolar a fe$ta" -, a decisão do Ministério da Cultura de permitir que a Ivete Sangalo vá ao mercado captar R$ 1.850.820,00 para fazer seis shows pelo país. O negócio é mais ou menos o seguinte: com a autorização, a produção da Ivete - uma artista popular, que tem shows lotados e vende muitos CDs e DVDs - vai em busca de patrocínio. O dinheiro que as empresas investirem será abatido de seus impostos. E as empresas ainda têm direito de posar de patrocinadoras do show - na verdade, os patrocinadores seremos todos nós, gostemos ou não gostemos da Ivete, tenhamos ou não tenhamos grana para assistir seus shows, compremos ou não ingressos.
Em tese, o mais justo aplicar dinheiro público em atividades artísticas e culturais que não tivessem como viver apenas do mercado (orquestras, grupos populares e/ou iniciantes, atividades em cidades fora dos grandes centros). Projetos de artistas consagrados poderiam até receber uma graninha, desde que envolvessem uma contrapartida - shows gratuitos, com ingressos populares, sei lá. O complicado é usar o dinheiro de todos para bancar a diversão de alguns e o lucro de poucos.
Pra não ser injusto: a Ivete não é, nem de longe, a única a se beneficiar da lógica de dar dinheiro público para quem já o tem (uma velha prática brasileira, por sinal). Fui dar uma olhada no site do Minc. Olha só que encontrei: a Maria Bethânica conseguiu captar R$ 500 mil reais para a série de shows Brasileirinho II, também chamada de Dentro do mar tem rio. Conseguiu dinheiro na Eletrobrás, Unibanco e Copesul. Pior é que o site diz que houve problemas na prestação de contas. No Canecão, os ingressos pagos por não-estudantes custaram de R$ 60,00 a R$ 140,00 (havia poltronas a R$ 20,00, compradas na hora do show). Em São Paulo, variavam de R$ 100,00 a R$160,00. Ingressos, vale frisar, subsidiados com dinheiro público.
Gilberto Gil conseguiu, em 2002 - antes de virar ministro -, captar R$ 143 mil apenas para a produção editorial de um livro - Todas as letras - que reuniria as letras de suas músicas e apresentaria seus comentários sobre elas. A impressão seria bancada com recursos próprios. Também em 2002, sua produtora captou R$ 860 mil para viabilizar a presença de seu Trio Elétrico Expresso 2222 no Carnaval de Salvador.
Que ninguém diga que implico com baiano. A produção da peça Mademoiselle Chanel, com Marília Pêra, captou R$ 619 milhões: se não me engano, os ingressos de não-estudantes custavam, no Rio, até R$ 120,00. Depois, os produtores conseguiram mais R$ 477 mil para apresentações em outras sete cidades do país.
Paulinho da Viola, um dos artistas que mais admiro, solicitou ao MinC o direito de captar R$ 1.726.300,00 para fazer, em 2008, 20 shows em dez cidades brasileiras. O projeto ainda não foi aprovado. Mais modestos, os gaúchos Kleiton e Kledir querem autorização para captar R$ 233.500,00 para produzir um CD com músicas inéditas que terá a tiragem de 3 mil exemplares: custo unitário, portanto, de R$ 77,83. Ah, cada CD será vendido por R$ 25,00.
OK, os valores são menores que os inacreditáveis R$ 9,4 milhões captados pelos produtores do Cirque du Soleil em 2006. Mas, enfim, ficam algumas perguntas: será que não seria mais justo que o financiamento dos shows e CDs de artistas consagrados fosse feito pelos fãs que compram ingressos e discos? Por que todos temos que pagar por isso? Por que o Estado tem que subsidiar a propaganda feita por grandes empresas? Importante registrar que tudo isso é feito legalmente, não há irregularidade. Mas talvez seja o caso de se repensar esse tipo de investimento público. Enquanto isso, os jornalistas que cobrem a área poderiam passar a incluir o valor captado com base nas leis de incentivo nas matérias sobre estréias de peças, filmes e shows subsidiados.
Em tese, o mais justo aplicar dinheiro público em atividades artísticas e culturais que não tivessem como viver apenas do mercado (orquestras, grupos populares e/ou iniciantes, atividades em cidades fora dos grandes centros). Projetos de artistas consagrados poderiam até receber uma graninha, desde que envolvessem uma contrapartida - shows gratuitos, com ingressos populares, sei lá. O complicado é usar o dinheiro de todos para bancar a diversão de alguns e o lucro de poucos.
Pra não ser injusto: a Ivete não é, nem de longe, a única a se beneficiar da lógica de dar dinheiro público para quem já o tem (uma velha prática brasileira, por sinal). Fui dar uma olhada no site do Minc. Olha só que encontrei: a Maria Bethânica conseguiu captar R$ 500 mil reais para a série de shows Brasileirinho II, também chamada de Dentro do mar tem rio. Conseguiu dinheiro na Eletrobrás, Unibanco e Copesul. Pior é que o site diz que houve problemas na prestação de contas. No Canecão, os ingressos pagos por não-estudantes custaram de R$ 60,00 a R$ 140,00 (havia poltronas a R$ 20,00, compradas na hora do show). Em São Paulo, variavam de R$ 100,00 a R$160,00. Ingressos, vale frisar, subsidiados com dinheiro público.
Gilberto Gil conseguiu, em 2002 - antes de virar ministro -, captar R$ 143 mil apenas para a produção editorial de um livro - Todas as letras - que reuniria as letras de suas músicas e apresentaria seus comentários sobre elas. A impressão seria bancada com recursos próprios. Também em 2002, sua produtora captou R$ 860 mil para viabilizar a presença de seu Trio Elétrico Expresso 2222 no Carnaval de Salvador.
Que ninguém diga que implico com baiano. A produção da peça Mademoiselle Chanel, com Marília Pêra, captou R$ 619 milhões: se não me engano, os ingressos de não-estudantes custavam, no Rio, até R$ 120,00. Depois, os produtores conseguiram mais R$ 477 mil para apresentações em outras sete cidades do país.
Paulinho da Viola, um dos artistas que mais admiro, solicitou ao MinC o direito de captar R$ 1.726.300,00 para fazer, em 2008, 20 shows em dez cidades brasileiras. O projeto ainda não foi aprovado. Mais modestos, os gaúchos Kleiton e Kledir querem autorização para captar R$ 233.500,00 para produzir um CD com músicas inéditas que terá a tiragem de 3 mil exemplares: custo unitário, portanto, de R$ 77,83. Ah, cada CD será vendido por R$ 25,00.
OK, os valores são menores que os inacreditáveis R$ 9,4 milhões captados pelos produtores do Cirque du Soleil em 2006. Mas, enfim, ficam algumas perguntas: será que não seria mais justo que o financiamento dos shows e CDs de artistas consagrados fosse feito pelos fãs que compram ingressos e discos? Por que todos temos que pagar por isso? Por que o Estado tem que subsidiar a propaganda feita por grandes empresas? Importante registrar que tudo isso é feito legalmente, não há irregularidade. Mas talvez seja o caso de se repensar esse tipo de investimento público. Enquanto isso, os jornalistas que cobrem a área poderiam passar a incluir o valor captado com base nas leis de incentivo nas matérias sobre estréias de peças, filmes e shows subsidiados.
15 de fevereiro de 2008
Meninas mortas
Não quero transformar este blog num espaço de discussão de segurança pública - o Jorge Antônio Barros faz isso muito bem lá no seu Repórter de Crime (http://oglobo.globo.com/rio/ancelmo/reporterdecrime/). Mas, caramba: acabo de cobrir a terceira morte de menina de onze anos vítima de bala classificada como perdida. Cobri os três casos: todos ocorreram em favelas durante conflitos entre policiais e bandidos. Nesta sexta, a vítima foi Ágata Marques dos Santos, moradora da Rocinha; na semana passada morreu, na Vila Cruzeiro, a Yorrane Abas Tavares Ferreira; no dia 15 de dezembro passado a bala matou Fabiana Santos Monteiro, moradora do morro do Telégrafo, na Mangueira. Sobre este último caso cheguei a fazer um post no dia 18 de dezembro, A rosa de número 6.001.
A Secretaria de Segurança diz que lamenta as mortes, mas que é assim mesmo, a polícia tem que combater o tráfico. A Polícia Civil soltou uma nota em que afirma que tem procurado agir com "planejamento, inteligência e cautela" para evitar vítimas inocentes. Não duvido das boas intenções das autoridades de segurança, sei que a situação no Rio é muito complicada. Mas não dá pra reagir com naturalidade diante de tantas mortes de crianças. Não consigo acreditar que esse seja o preço que tenhamos que pagar pelo suposto fim do domínio territorial de traficantes em favelas cariocas. Não é a primeira vez que a política de confronto é exacerbada, outros governos já fizeram o mesmo, com resultados pífios. Também não dá para ver com naturalidade cenas de policiais atirando em direção às casas da favela, para o alto do morro, sem mirar num alvo específico. Bandidos fazem isso? Fazem. Mas eles são bandidos, a polícia não pode se igualar a eles.
O pior é que as histórias da Ágata, da Yorrane e da Fabiana vão sumir logo dos jornais (estas duas já desapareceram). O destaque dado aos mortos tem a ver com a renda de cada um. A indignação da população também é proporcional à posição social das vítimas. Não tenho a menor dúvida que a reação da sociedade e mesmo das autoridades seria outra se as meninas mortas morassem aqui, no asfalto, e não lá em cima, nas favelas.
A Secretaria de Segurança diz que lamenta as mortes, mas que é assim mesmo, a polícia tem que combater o tráfico. A Polícia Civil soltou uma nota em que afirma que tem procurado agir com "planejamento, inteligência e cautela" para evitar vítimas inocentes. Não duvido das boas intenções das autoridades de segurança, sei que a situação no Rio é muito complicada. Mas não dá pra reagir com naturalidade diante de tantas mortes de crianças. Não consigo acreditar que esse seja o preço que tenhamos que pagar pelo suposto fim do domínio territorial de traficantes em favelas cariocas. Não é a primeira vez que a política de confronto é exacerbada, outros governos já fizeram o mesmo, com resultados pífios. Também não dá para ver com naturalidade cenas de policiais atirando em direção às casas da favela, para o alto do morro, sem mirar num alvo específico. Bandidos fazem isso? Fazem. Mas eles são bandidos, a polícia não pode se igualar a eles.
O pior é que as histórias da Ágata, da Yorrane e da Fabiana vão sumir logo dos jornais (estas duas já desapareceram). O destaque dado aos mortos tem a ver com a renda de cada um. A indignação da população também é proporcional à posição social das vítimas. Não tenho a menor dúvida que a reação da sociedade e mesmo das autoridades seria outra se as meninas mortas morassem aqui, no asfalto, e não lá em cima, nas favelas.
14 de fevereiro de 2008
Direitos dos bandidos, nossos direitos
O caso daquele juiz federal que disse ter sido agredido por policiais civis do Rio
(mais detalhes no Blog do Noblat - http://oglobo.globo.com/pais/noblat -, postagem das 12h24 de ontem, 13/2) - é ótimo para os que acham que qualquer policial tem o sagrado direito de bater em qualquer suspeito (eventualmente, tem também o direito de matá-lo). Essas pessoas, que adoram mandar cartas furibundas para O Globo, acham que a cor da própria pele e a posição social que ostentam serão barreiras à violência policial; têm certeza de que nunca serão atingidas. Tolinhas: defender o respeito aos direitos humanos de acusados de crimes ou mesmo de bandidos não é apenas uma manifestação de justiça e civilidade, é também uma ótima maneira de garantir os nossos direitos, os direitos de todos. Se o policial respeitar o suposto bandido também respeitará o suposto inocente.
(mais detalhes no Blog do Noblat - http://oglobo.globo.com/pais/noblat -, postagem das 12h24 de ontem, 13/2) - é ótimo para os que acham que qualquer policial tem o sagrado direito de bater em qualquer suspeito (eventualmente, tem também o direito de matá-lo). Essas pessoas, que adoram mandar cartas furibundas para O Globo, acham que a cor da própria pele e a posição social que ostentam serão barreiras à violência policial; têm certeza de que nunca serão atingidas. Tolinhas: defender o respeito aos direitos humanos de acusados de crimes ou mesmo de bandidos não é apenas uma manifestação de justiça e civilidade, é também uma ótima maneira de garantir os nossos direitos, os direitos de todos. Se o policial respeitar o suposto bandido também respeitará o suposto inocente.
12 de fevereiro de 2008
A falsa fatalidade e o samba do Edmundo
Acabo de ler que o pai de uma das vítimas do acidente em São Paulo - aquele em que morreram cinco jovens - disse que o fato deveria servir de exemplo para os mais jovens. Mas, em seguida, classificou o episódio de "fatalidade". Com todo o respeito e carinho por ele, que sofre agora uma dor inimaginável: é um erro se falar em "fatalidade". Ao que tudo indica - e peço desculpas antecipadas caso eu esteja errado - houve sim uma irresponsabilidade coletiva. Não uma fatalidade, mas um resultado até previsível diante da provável combinação entre álcool e volante.
É curioso como a sociedade reage de forma diferente a tragédias que causam mortes violentas. Se as mortes são resultado de uma ação de bandidos, ressurge o coro do pega-mata-come: a pregação por penas mais duras, a negação dos mais elementares direitos humanos, a tolerância com a violência policial. Claro: essas mortes são produzidas pelos outros, por eles, pelos marginais; de um modo geral, feios, sujos e malvados. Já acidentes de trânsito são, de um modo geral, causados por gente como a gente, pessoas que se parecem conosco, com nossos amigos ou filhos. Nesses casos, a grita é mais branda. O crime aparece coberto pela capa da tal fatalidade. Não tenho apoio estatístico para isso (já até tentei usar os dados do DataSus, mas eles são incompletos, não permitem conclusões definitivas), mas sou capaz de apostar que os filhos da classe média morrem mais de acidentes de carro do que de balas disparadas por bandidos. No entanto, tendemos a ter mais medo da ação destes.
Volta e meia se acusa - com razão até - a justiça de ser lenta e tolerante com motoristas que causam acidentes. Mas, de certa forma, a sociedade também é igualmente tolerante. Na madrugada de domingo passado, o jogador Edmundo, depois de circular num camarote no sambódromo, desceu à pista e desfilou no meio de uma escola de samba. De onde eu estava, não ouvi vaias nem qualquer manifestação de protesto quanto à presença, ali, de um sujeito condenado pela morte de três jovens em um acidente de trânsito ocorrido em dezembro de 1995. Julgado em 1999, ele, até hoje, consegue, de recurso em recurso (são sete recursos desde a condenação, segundo matéria publicada em junho passado em O Globo), adiar o cumprimento da pena. Uma pena muito leve, por sinal: quatro anos e meio de prisão em regime semi-aberto.
Duvido que a reação do público do sambódromo seria a mesma caso o desfilante fosse outro. Por exemplo, um homicida comum, ou mesmo aqueles dois condenados pelo assassinato da Daniella Perez (e olha que ambos cumpriram pena). A sociedade é tolerante com os crimes de trânsito talvez até como um habeas corpus preventivo - como se pensasse no que seria capaz de fazer ao volante depois de algumas doses. Na dúvida, exerce com o outro a tolerância que deseja para si. O resultado disso é o silêncio cúmplice diante do desfile de um condenado que se recusa a cumprir a pena.
É curioso como a sociedade reage de forma diferente a tragédias que causam mortes violentas. Se as mortes são resultado de uma ação de bandidos, ressurge o coro do pega-mata-come: a pregação por penas mais duras, a negação dos mais elementares direitos humanos, a tolerância com a violência policial. Claro: essas mortes são produzidas pelos outros, por eles, pelos marginais; de um modo geral, feios, sujos e malvados. Já acidentes de trânsito são, de um modo geral, causados por gente como a gente, pessoas que se parecem conosco, com nossos amigos ou filhos. Nesses casos, a grita é mais branda. O crime aparece coberto pela capa da tal fatalidade. Não tenho apoio estatístico para isso (já até tentei usar os dados do DataSus, mas eles são incompletos, não permitem conclusões definitivas), mas sou capaz de apostar que os filhos da classe média morrem mais de acidentes de carro do que de balas disparadas por bandidos. No entanto, tendemos a ter mais medo da ação destes.
Volta e meia se acusa - com razão até - a justiça de ser lenta e tolerante com motoristas que causam acidentes. Mas, de certa forma, a sociedade também é igualmente tolerante. Na madrugada de domingo passado, o jogador Edmundo, depois de circular num camarote no sambódromo, desceu à pista e desfilou no meio de uma escola de samba. De onde eu estava, não ouvi vaias nem qualquer manifestação de protesto quanto à presença, ali, de um sujeito condenado pela morte de três jovens em um acidente de trânsito ocorrido em dezembro de 1995. Julgado em 1999, ele, até hoje, consegue, de recurso em recurso (são sete recursos desde a condenação, segundo matéria publicada em junho passado em O Globo), adiar o cumprimento da pena. Uma pena muito leve, por sinal: quatro anos e meio de prisão em regime semi-aberto.
Duvido que a reação do público do sambódromo seria a mesma caso o desfilante fosse outro. Por exemplo, um homicida comum, ou mesmo aqueles dois condenados pelo assassinato da Daniella Perez (e olha que ambos cumpriram pena). A sociedade é tolerante com os crimes de trânsito talvez até como um habeas corpus preventivo - como se pensasse no que seria capaz de fazer ao volante depois de algumas doses. Na dúvida, exerce com o outro a tolerância que deseja para si. O resultado disso é o silêncio cúmplice diante do desfile de um condenado que se recusa a cumprir a pena.
11 de fevereiro de 2008
Marias e Joãos da Leopoldina
Deve ser coisa do suburbano que nunca deixarei de ser. Mas, para fechar o ciclo carnavalesco - até porque 2008 já começou! -, cito aqui um trecho do samba da Imperatriz Leopoldinense. Escola que já foi a papa-tudo do carnaval carioca, especialista nos tais desfiles frios e técnicos, a Imperatriz fez este ano uma belíssima apresentação e trouxe o mais lindo samba da temporada.
Dizer que em Ramos, "a nossa estação", "imperam Marias e Joãos" é muito bonito e emocionante. Ainda mais quando lembramos que a região da Leopoldina, parte dela dominada por quadrilhas bem armadas, tornou-se foco principal da ação da polícia. Foi lá que, no ano passado, dezenas de Marias e Joãos inocentes foram mortos em nome do combate ao tráfico. E é lá que, de acordo com a previsão do secretário de Segurança Pública, deverão ocorrer outras mortes, digamos, civis. Em meio à barbárie, não custa celebrar de novo as Marias e os Joãos responsáveis pela criação de belezas como os desfiles das escolas de samba. Vida longa e feliz para todos eles.
E Leopoldina será nossa imperatriz
Será também nome de trem
Que passa em Ramos, a nossa estação
Onde imperam Marias e Joãos
Dizer que em Ramos, "a nossa estação", "imperam Marias e Joãos" é muito bonito e emocionante. Ainda mais quando lembramos que a região da Leopoldina, parte dela dominada por quadrilhas bem armadas, tornou-se foco principal da ação da polícia. Foi lá que, no ano passado, dezenas de Marias e Joãos inocentes foram mortos em nome do combate ao tráfico. E é lá que, de acordo com a previsão do secretário de Segurança Pública, deverão ocorrer outras mortes, digamos, civis. Em meio à barbárie, não custa celebrar de novo as Marias e os Joãos responsáveis pela criação de belezas como os desfiles das escolas de samba. Vida longa e feliz para todos eles.
E Leopoldina será nossa imperatriz
Será também nome de trem
Que passa em Ramos, a nossa estação
Onde imperam Marias e Joãos
8 de fevereiro de 2008
Isso me irrita! (1)
Agenciadores de táxi - ou os próprios taxistas - gritando "Táxi!Táxi!Táxi!". Como já disse algumas vezes para esses sujeitos: eu é que tenho que chamar o táxi, não é o táxi que tem que me chamar.
7 de fevereiro de 2008
Arquivando o tamborim
O 10o. lugar para a Mangueira tem apenas uma explicação: as notas baixas não foram para a escola, mas para o Tuchinha, o traficante que andou frevando pela quadra e virou parceiro do samba. A Mangueira pagou pelas más companhias.
Por falar em sambandido. Pode ser paranóia, mas levei um susto com o refrão do samba da Mocidade Independente:
"Minha Mocidade guerreira
Traz a igualdade, justiça e paz."
Igualdade, justiça e paz - nada contra, muito pelo contrário. O problema é que a seqüência é parecida demais com o lema do CV: "Paz, justiça e liberdade." Na dúvida, parei de cantar o refrão no sambódromo.
Diz a lenda que, antigamente, o Aniz/"Anísio" reclamava: investia uma grana no carnaval e tudo ia por água abaixo na hora em que o Jamelão cantava "Mangueira teu cenário é uma beleza." Pelo jeito, o Neguinho herdou o posto. Pelo carisma, pela simpatia, pela hoje rara fidelidade à escola. O "Olha a Beija-Flor aí, gente!" já é meio caminho andado.
Por falar em Neguinho: foi impressão minha ou a voz dele anda meio assim-assim? Durante o desfile, dava pra ouvir apenas o coro de puxadores. Tomara que seja algo passageiro ou apenas impressão minha.
Não vi, mas um amigo - torcedor da Beija-Flor - observou e contou: a grande Selminha Sorriso deixou a bandeira enrolar diante da cabine do último julgador. Mas não perdeu um décimo sequer.
A máquina de desfilar em que se transformou a Beija-Flor (a definição é de um amigo) reforça a diferença entre escolas de samba e blocos - nestes, dá pra brincar carnaval; naquelas, nada disso. O padrão Beija-Flor impõe um desfile ainda mais técnico do que os apresentados pela Imperatriz há alguns anos.
O Laíla, diretor de Carnaval e de Harmonia da Beija-Flor, é uma espécie de Bernardinho do samba. Quem já foi a um ensaio na quadra da escola sabe do que estou falando.
Por falar em sambandido. Pode ser paranóia, mas levei um susto com o refrão do samba da Mocidade Independente:
"Minha Mocidade guerreira
Traz a igualdade, justiça e paz."
Igualdade, justiça e paz - nada contra, muito pelo contrário. O problema é que a seqüência é parecida demais com o lema do CV: "Paz, justiça e liberdade." Na dúvida, parei de cantar o refrão no sambódromo.
Diz a lenda que, antigamente, o Aniz/"Anísio" reclamava: investia uma grana no carnaval e tudo ia por água abaixo na hora em que o Jamelão cantava "Mangueira teu cenário é uma beleza." Pelo jeito, o Neguinho herdou o posto. Pelo carisma, pela simpatia, pela hoje rara fidelidade à escola. O "Olha a Beija-Flor aí, gente!" já é meio caminho andado.
Por falar em Neguinho: foi impressão minha ou a voz dele anda meio assim-assim? Durante o desfile, dava pra ouvir apenas o coro de puxadores. Tomara que seja algo passageiro ou apenas impressão minha.
Não vi, mas um amigo - torcedor da Beija-Flor - observou e contou: a grande Selminha Sorriso deixou a bandeira enrolar diante da cabine do último julgador. Mas não perdeu um décimo sequer.
A máquina de desfilar em que se transformou a Beija-Flor (a definição é de um amigo) reforça a diferença entre escolas de samba e blocos - nestes, dá pra brincar carnaval; naquelas, nada disso. O padrão Beija-Flor impõe um desfile ainda mais técnico do que os apresentados pela Imperatriz há alguns anos.
O Laíla, diretor de Carnaval e de Harmonia da Beija-Flor, é uma espécie de Bernardinho do samba. Quem já foi a um ensaio na quadra da escola sabe do que estou falando.
5 de fevereiro de 2008
Azul, branco e penas
Pode parecer implicância, mas, nesta madrugada, quando a Beija-Flor passou, fiquei com a impressão de já ter visto aquele desfile. As fantasias (muitas penas, muito índio), os carros alegóricos (igualmente penugentos), o samba-enredo: a melodia, o refrão, os versos cheios de palavras e nomes incomuns, tudo lembrava carnavais passados.
Fui então dar uma olhada nos sambas apresentados pela escola nos últimos anos. A seguir, trechos misturados das letras:
Os cunanis, aristés, maracás
A luz que vem de Daomé, reino de Dan
É jeje, é jeje, é querebentã
na “yvy maraey” aiê... povo de fé.
Maués, Anauê cultura milenar
com tubichá e o feitiço de crué
Anauê, Manaus, Mamirauá.
Até pensei num samba para 2009. Algo como:
Assum anê, pondé querê
Mutum cauê:
cereco e tanta.
Teteco alê, surubantê...
Ô dinguelê, mestre de bamba.
O que quer dizer isso? Sei lá, mas fica aí uma contribuição mangueirense para a competente escola de Nilópolis.
Fui então dar uma olhada nos sambas apresentados pela escola nos últimos anos. A seguir, trechos misturados das letras:
Os cunanis, aristés, maracás
A luz que vem de Daomé, reino de Dan
É jeje, é jeje, é querebentã
na “yvy maraey” aiê... povo de fé.
Maués, Anauê cultura milenar
com tubichá e o feitiço de crué
Anauê, Manaus, Mamirauá.
Até pensei num samba para 2009. Algo como:
Assum anê, pondé querê
Mutum cauê:
cereco e tanta.
Teteco alê, surubantê...
Ô dinguelê, mestre de bamba.
O que quer dizer isso? Sei lá, mas fica aí uma contribuição mangueirense para a competente escola de Nilópolis.
2 de fevereiro de 2008
Justiça na madrugada
O tema da proibição do carro da Viradouro sobre o holocausto é delicado: a Constituição garante a liberdade de expressão, a lei municipal que impõe restrições aos desfile trata apenas do chamado vilipêndio a símbolos religiosos. Na dúvida, fico com o direito à liberdade, ainda que respeite e entenda o sentimento dos que, judeus ou não, se chocaram com a alegoria (barra-pesada demais para um desfile. O ótimo Paulo Barros poderia ter encontrado um jeito mais delicado e carnavalesco para tocar no tema: corpos amontoados, Hitler arrependido... argh!).
Muita gente contrária à decisão judicial que proibiu o carro alegou que a juíza que concedeu a liminar seria judia, o que a impediria de julgar o caso com isenção. Discordo. Não dá pra fazer uma associação tão automática assim. É até perigoso cairmos num determinismo deste tipo. Além do mais, nem todos os judeus - como está na edição de hoje de O Globo - concordaram com a decisão da Federação Israelita de pedir a proibição do carro.
Mas um ponto me intriga: a decisão de se recorrer ao plantão judiciário para se buscar a liminar. Isso ocorreu de quarta para quinta, ou seja, os advogados teriam ainda dois dias úteis para recorrer ao Judiciário. Neste caso, eles não saberiam que juiz iria analisar o pedido. Mas preferiram agir à noite ou de madrugada: em tese, eles poderiam saber quem era o juiz (no caso, a juíza) que estaria de plantão. A escala de plantonistas é divulgada no site do Tribunal de Justiça do Rio(hoje, sábado, é a juíza Marcia Cunha Silva Araujo de Carvalho; amanhã e depois, Fernanda Galliza do Amaral).
A questão, insisto, não é se a juíza é ou não judia - faço questão de não apurar isso. Acho até que seria racismo dizer que ela julgaria de acordo com pressupostos étnicos ou religiosos. Também não dá para sequer insinuar que ela já tivesse uma posição a respeito do caso. O problema é que os advogados sabiam que ela é que iria analisar o pedido. O plantão judidicário é para resolver questões urgentes - segundo o próprio site do TJ, casos como habeas corpus, prisão preventiva, busca e apreensão de menor, medida para ingresso em local onde exista alguém em risco, entre outros. Teria sido melhor se os advogados esperassem a abertura do fórum para pedir a liminar - que seria julgado por um juiz não previamente determinado.
Muita gente contrária à decisão judicial que proibiu o carro alegou que a juíza que concedeu a liminar seria judia, o que a impediria de julgar o caso com isenção. Discordo. Não dá pra fazer uma associação tão automática assim. É até perigoso cairmos num determinismo deste tipo. Além do mais, nem todos os judeus - como está na edição de hoje de O Globo - concordaram com a decisão da Federação Israelita de pedir a proibição do carro.
Mas um ponto me intriga: a decisão de se recorrer ao plantão judiciário para se buscar a liminar. Isso ocorreu de quarta para quinta, ou seja, os advogados teriam ainda dois dias úteis para recorrer ao Judiciário. Neste caso, eles não saberiam que juiz iria analisar o pedido. Mas preferiram agir à noite ou de madrugada: em tese, eles poderiam saber quem era o juiz (no caso, a juíza) que estaria de plantão. A escala de plantonistas é divulgada no site do Tribunal de Justiça do Rio(hoje, sábado, é a juíza Marcia Cunha Silva Araujo de Carvalho; amanhã e depois, Fernanda Galliza do Amaral).
A questão, insisto, não é se a juíza é ou não judia - faço questão de não apurar isso. Acho até que seria racismo dizer que ela julgaria de acordo com pressupostos étnicos ou religiosos. Também não dá para sequer insinuar que ela já tivesse uma posição a respeito do caso. O problema é que os advogados sabiam que ela é que iria analisar o pedido. O plantão judidicário é para resolver questões urgentes - segundo o próprio site do TJ, casos como habeas corpus, prisão preventiva, busca e apreensão de menor, medida para ingresso em local onde exista alguém em risco, entre outros. Teria sido melhor se os advogados esperassem a abertura do fórum para pedir a liminar - que seria julgado por um juiz não previamente determinado.
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